19.10.06

Barbizon e a deriva securitária

Hoje de manhã eram 7 e meia quando o telefone tocou a dar o alarme. Estava eminente desde a semana passada a evacuação e expulsão do Barbizon, uma sala de cinema de quase cem anos, abandonada há 20 e que revivia desde há 4 graças a um grupo de amigos do treizième arrondissement de Paris.

Os indícios eram vários, as expulsões recentes de outros "squats" (ocupas), as visitas recorrentes das inspecções... Alguns "amigos de Tolbiac" haviam decidido passar as noites na sala para evitar que a polícia de choque viesse sem encontrar resistência. Na segunda feira, uma boa notícia, a câmara aprovara uma moção de apoio a favor do Barbizon e de um outro squat também ameaçado, "la Générale". A tensão acalmou um pouco e a sala ficou fechada, pois todo o pessoal da associação trabalha durante o dia, alguns têm famílias à noite, todo o trabalho é feito como voluntariado.

Só que a câmara de Paris e a Prefeitura de polícia são poderes diferentes, de lados opostos do espectro político e com visões bastante antagónicas a nível do uso da autoridade. Por isso a polícia achou por bem acabar com a brincadeira antes que o burburinho atingisse esferas mais altas.

Vários projectos culturais semelhantes tiveram sortes semelhantes recentemente, e o ministério do intereior prevê a limpeza completa dos squats até às eleições do próximo ano. Em alguns casos já foram ateados incéndios para provar à população a insalubridade destes locais... é verdade que o conforto não é o seu maior apelativo, mas nunca ninguém negou apoio finaceiro para melhorar estes lugares! E ele chegou a vir, da Câmara e da Junta (mairie d'arrondissement).

A lei francesa prevê que os proprietários de um estabelecimento não possam expulsar ocupantes espontâneos se não houver projecto para o local. Por outro lado, da parte do estado e do "super-ministro" do interior, Nicolas Sarkozy, vieram sempre as ameaças de fechar todos os locais à margem da lei, posição que agrada a muitos eleitores por causa da ilusão da segurança. Este é um forte candidato às eleições presidenciais do próximo ano, à esquerda, a resposta parece ser aproximar-se desta posição, pelo que dentro de uns meses vamos ter uma França menos culta em troca de uma ilusão de segurança e autoridade.

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